A proposta foi apresentada por uma delegação americana liderada por David Gamble, chefe interino da coordenação de sanções do Departamento de Estado dos EUA, durante reunião em Brasília
O governo brasileiro recusou uma proposta dos Estados Unidos para classificar as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A proposta foi apresentada por uma delegação americana liderada por David Gamble, chefe interino da coordenação de sanções do Departamento de Estado dos EUA, durante reunião em Brasília.
Divergências Jurídicas e Estratégicas
A administração americana argumentou que a designação permitiria aplicar sanções mais severas contra as facções, com base na legislação antiterrorismo dos EUA. Segundo Gamble, o FBI identificou a presença de membros do PCC e do CV em 12 estados americanos, incluindo Nova York, Flórida e Nova Jersey, onde estariam envolvidos em atividades como lavagem de dinheiro.
O governo brasileiro, por sua vez, rejeitou a proposta, alegando que o sistema legal nacional não enquadra facções criminosas como organizações terroristas, uma vez que suas atividades não têm motivação ideológica, mas são voltadas para o lucro de atividades ilícitas. Representantes dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública, além da Polícia Federal, reforçaram que o país adota políticas de combate ao crime organizado, incluindo o isolamento de líderes das facções em presídios federais e a atuação conjunta de polícias e Ministérios Públicos.
Cooperação Internacional em Níveis Regionais
Enquanto o governo federal mantém sua posição, o governo do estado do Rio de Janeiro busca apoio dos EUA para combater o Comando Vermelho. A Secretaria de Segurança Pública do RJ está negociando um acordo com o governo americano para que o CV seja reconhecido como uma organização criminosa transnacional. Esse reconhecimento permitiria uma atuação mais ampla de agências do governo dos EUA, como a Drug Enforcement Administration (DEA) e a Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), para combater as atividades da facção.
A proposta de parceria começou a ser discutida em junho de 2024, baseada em indícios de que o CV estaria recrutando comparsas dentro dos Estados Unidos e que a facção teria se aliado a cartéis da América do Sul para levar drogas ao país norte-americano.
Aliança entre Facções e Desafios para a Segurança
Recentemente, um relatório do governo federal alertou para um possível acordo entre o PCC e o CV, que pode agravar o tráfico de drogas na região amazônica e aumentar a pressão sobre as forças de segurança. A trégua, que teria sido assinada pelos chefes das duas organizações, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola (PCC), e Marcinho VP (CV), ambos detidos em presídios de segurança máxima, pode fortalecer as rotas de tráfico de cocaína provenientes de Colômbia, Bolívia e Peru, que atravessam a região amazônica.
Autoridades de segurança pública expressaram preocupação com a aliança, que pode facilitar fugas e rebeliões em presídios federais, além de expandir o tráfico de drogas. A união entre as facções é vista como uma estratégia para pressionar o governo e articular medidas legais que flexibilizem as condições rigorosas impostas pelo sistema penitenciário federal.
Conclusão
A recusa do governo brasileiro em classificar o PCC e o CV como organizações terroristas reflete uma abordagem que prioriza o combate ao crime organizado dentro dos marcos legais nacionais. Enquanto isso, iniciativas regionais, como a do governo do Rio de Janeiro, indicam uma busca por cooperação internacional para enfrentar o avanço das facções. A crescente sofisticação e expansão das atividades dessas organizações criminosas representam desafios significativos para a segurança pública e exigem uma resposta coordenada entre diferentes níveis de governo e países.